"Mais uma vez, depois de As Ruas da Amargura, Rui Simões pega num tema que parece estafado, para mostrar que é sempre possível romper a superficialidade da cartola e tirar de lá mais alguns coelhos. No famoso guetto da amadora encontrou um bairro que dá uma "lição de vida comunitária" a todo o país. O realizador não se interessa por política, não pertence a nenhum partido, "mas sou um militante de causas". E percebeu que ter ali "África a um minuto de Lisboa" é um património que não pode ser destruído, "e que só nos enriquece". Não se interessou pelo tráfico, nem tanto pelos aspectos mais exóticos da senhora a moer o milho no meio da rua. Interessou-lhe esta ideia de "ver um Cabo Verde reconstruído à imagem do seu próprio país", onde se vive na rua, se convive, se fazem festa onde cabe sempre mais um, onde uma série de serviços comunitários são humanos e funcionais. "Características e atitudes e gestos, que são mais riqueza do que pobreza". Sem ajuda de voz off e sem recorrer a música de apoio, para além daquela que se escuta no bairro, Rui Simões passou três anos a pesquisar e a conhecer as pessoas, mas classifica-o como um dos filmes mais difíceis de fazer da sua carreira. É complicado retratar toda uma população, transmitir o ambiente, toda aquela energia das festas que chegavam a durar dez horas, e depois condensar tudo numa hora e meia de filme. Na Ilha... (estreia-se em sala a 13 de Maio) a câmara de Rui Simões entra literalmente no panelão da cachupa. "Gostava que as pessoas no cinema conseguissem cheirar aquele prato."
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