Está-se bem na Cova da Moura

Depois de Ruas da Amargura, Rui Simões regressa novamente com um cinema de causas. Desta vez, mostra a riqueza e diversidade cultural da Cova da Moura. Não há que ter medo do monstro papão que todos querem abater. Depois de passar no Indie, o filme estreia-se em sala (Lisboa, Porto, Alfragide e Viseu) no dia 13 de Maio.

Entrevista publicada na edição de 21 de Abril de 2010 do Jornal de Letras

Ilha da Cova da Mora na revista VISÃO

"Mais uma vez, depois de As Ruas da Amargura, Rui Simões pega num tema que parece estafado, para mostrar que é sempre possível romper a superficialidade da cartola e tirar de lá mais alguns coelhos. No famoso guetto da amadora encontrou um bairro que dá uma "lição de vida comunitária" a todo o país. O realizador não se interessa por política, não pertence a nenhum partido, "mas sou um militante de causas". E percebeu que ter ali "África a um minuto de Lisboa" é um património que não pode ser destruído, "e que só nos enriquece". Não se interessou pelo tráfico, nem tanto pelos aspectos mais exóticos da senhora a moer o milho no meio da rua. Interessou-lhe esta ideia de "ver um Cabo Verde reconstruído à imagem do seu próprio país", onde se vive na rua, se convive, se fazem festa onde cabe sempre mais um, onde uma série de serviços comunitários são humanos e funcionais. "Características e atitudes e gestos, que são mais riqueza do que pobreza". Sem ajuda de voz off e sem recorrer a música de apoio, para além daquela que se escuta no bairro, Rui Simões passou três anos a pesquisar e a conhecer as pessoas, mas classifica-o como um dos filmes mais difíceis de fazer da sua carreira. É complicado retratar toda uma população, transmitir o ambiente, toda aquela energia das festas que chegavam a durar dez horas, e depois condensar tudo numa hora e meia de filme. Na Ilha... (estreia-se em sala a 13 de Maio) a câmara de Rui Simões entra literalmente no panelão da cachupa. "Gostava que as pessoas no cinema conseguissem cheirar aquele prato."



Ana Margarida de Carvalho

Diáspora/cinema:A Ilha da Cova da Moura

Cabo Verde não fica só em África. Cabo Verde está mesmo às portas de Lisboa. Esta é a ideia que o novo documentário do realizador português Rui Simões deixou aos que assistiram à primeira visualização de A Ilha da Cova da Moura, no cinema City Classic Alvalade. Bairro problemático? Dor de cabeça para as autoridades? As queixas existem, principalmente por parte dos jovens que lá habitam - abusos por parte das autoridades, racismo, invasão domiciliária pela polícia e violação dos seus direitos enquanto cidadãos que aqui trabalham. É verdade. Mas, no final, a ideia que fica é a de que os seis mil habitantes do bairro vivem no melhor dos dois mundos. Vive-se um Cabo Verde recriado nas ruas, nas festas, bailes de funaná, festas de Colá Sanjon, almoços com cachupa, casamentos, nascimentos, mortes, funerais. E depois, cedo pela manhã, atravessa-se a estrada e apanha-se o autocarro para um outro mundo: o do trabalho, nas limpezas, na construção civil, nos supermercados, na Lisboa bem portuguesa. (...)

Selecção Festival IndieLisboa'10









O documentário "Ilha da Cova da Moura" foi seleccionado para o Festival IndieLisboa 2010 (7º Festival Internacional de Cinema Independente), inserido na secção "O Pulsar do Mundo", um programa composto por filmes que lidam com questões relevantes da actualidade mundial.

A estreia está marcada para dia 28 de Abril às 19.00h no Grande Auditório da Culturgest.