Entrevista a Rui Simões - C7INEMA

Por ocasião da exibição no Indie e da estreia nas salas a 13 de Maio da “Ilha da Cova da Moura”, um documentário sobre este bairro da periferia lisboeta, falámos com Rui Simões, o realizador. Nascido em 1944, em Lisboa, é uma pessoa politicamente activa, tendo participado no Maio de 68 e sendo um dos fundadores da secção portuguesa da Amnistia Portuguesa. Nas artes, tem experiência em teatro, instalações vídeo e realizou em directo os espectáculos efectuados na Praça Sony durante a Expo 98. Com vários filmes já realizados, essencialmente documentários, o "Ilha da Cova da Moura" centra-se no dia-a-dia deste bairro e nas suas raízes cabo verdiana.



O filme ficou em segundo lugar da escolha do público, que foram 5 documentários, 4 portugueses.

Acho que havia excelentes trabalhos, excelentes documentários e acho que cada vez há mais bons documentários em Portugal. O documentário nunca deixou de existir no mundo com grande qualidade, em Portugal há falta de investimento no documentário.

Fazer um documentário em Portugal, é muito difícil?

São verbas muito pequenas e portanto nós não podemos elevar o patamar de um documentário ao nível de documentários que a gente vê no estrangeiro, que são produções como deve de ser.

Eu acho que a qualidade é boa…

Sim, porque há quem lute por ela.

A nível de fotografia, imagem e mesmo som, que é considerado o ponto fraco do cinema português, nos documentários, está muito boa.

Sim, não me posso queixar porque sempre tive som bom nos meus filmes. Há 35 anos tenho som bom. Nunca tive problemas, nem nos meus primeiros filmes: o “Bom Povo Português” tem um som excelente. O filme passou no mundo inteiro e nunca tive problemas nenhuns de áudio. E continuo a não ter. Agora, no geral, é verdade que há uma evolução grande. Porque a tecnologia evoluiu muito, também há mais técnicos, mais formação, as coisas sentem-se. Não se pode estar sempre a queixar que vieram para cá os fundos europeus e a gente não fez nada. Fez. Houve uma evolução, apesar de tudo. Há muitas escolas de técnicos novos. Acho que há uma evolução grande. Mas no documentário é onde isso é mais visível, na verdade.
Esse problema, eu sei que se põe. Sei porque também sou espectador, portanto sei que se põe. Agora, no documentário acho que há um salto muito grande em termos de linguagem, em termos de abordagem, em termos de capacidade de apresentar um trabalho coeso. Acho que há uma grande evolução no cinema português. Porque há jovens a entrar e com poucos meios podem mostrar o que valem e isso também ajuda a que a concorrência seja maior, porque a ficção está muito na mão das mesmas pessoas, portanto, o cinema português… O que é o cinema português? Eu tenho as minhas dúvidas, sou um bocadinho radical nisso mas, a verdade é que está fechado num grupo de cineastas que são sempre os mesmos. Não quer dizer que não haja outros. A prova é que, quando se abre uma oportunidadezinha a um jovem, ele galga logo e sobe. Mas acho que no documentário, como são orçamentos pequeninos e baixos, há mais diversidade, há mais gente a fazer. Até se consegue fazer com muito pouco dinheiro porque basta pegar numa câmara e uma pessoa vai para a frente e isso parecendo que não inova.

O filme que ganhou o Doclisboa era um documentário chinês essencialmente gravado com uma câmara de mão.

No Doc há filmes mais ousados. Aqui no indie também ganhou um filme feito de câmara à mão, portanto, daqueles irmãos americanos. Ganhou o grande prémio do festival. Câmara rápida, à mão, os actores são perseguidos pela câmara quase, portanto, essa linguagem, no indie e nos festivais passa bem, não é? Nos cinemas já é mais difícil. O público tem dificuldade em aceitar uma câmara muito rápida, imagens desfocados e tal.

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