Luís Graça & Camaradas da Guiné

Já vi o filme duas vezes, a primeira no IndieLisboa'10... No meu bloco de notas, fui rabiscando algumas palavras-chave ou descritores para um futuro texto de leitura crítica:
O amanhecer, a cidade grande, o vermelho do céu, fome de terra, um homem e uma mulher transportando cachos de bananas e milho, de repente uma nesga de África na Grande Lisboa, um jovem mediador intercultural (sic) mostrando o bairro, "São todos bem-vindos", Restaurante Coqueiro, Moínho da Juventude, "coração do bairro", empregadas domésticas, "Ir abaixo o bairro ? Faz muita confusão", amor ao bairro, medo de melhorar (de fazer obras), "mapa mental" do carteiro (correio), emaranhado de ruas e ruelas, casas sem nº de polícia, vendedeiras de peixe na Ribeira, 2h da madrugada/13h da tarde, comboio, crianças na rua, papel social e cultural do Moínho, cozinham todos dias mais de 400 refeições, o ciclo da violência, história de uma família ("quem com ferro mata com ferro morre"), retornados de Angola, retornados mais caboverdianos, brancos, cultura própria, mix, estigmatização, "Cova da Moura tem má fama, mas eu não troco a minha casa por um andar", "pais de rapariga branca não aceitam genro de cor", "filho de macaco" (sic), "mãe já aceita, pai não", "bandido, marginal, preto" (sic), estereótipos, racismo, arbitariedade da polícia, falta de maturidade e de competências técnicas à PSP, "reis da Cova da Moura", bodas de prata, igreja da Buraca, rua como espaço público (onde se cozinha, dança, namora, come, se faz o choro...), Santa Casa da Misericórdia da Amadora, história do bairro, origens, conflito inicial com ciganos, malandros, convívio, festa, manhã, autocarro, limpeza de escritórios, pequenos almoços e almoços para as crianças e as amas do bairro (4 crianças por ama), creche familiar, trabalham para o Moínho, histórias de vida, papi embarcadiço, vida de mulher caboverdiana ("sabe como é, é preciso ter sorte com o marido, o meu é trabalhador"), operadora de caixa no Modelo, "não conheço vizinhos no meu prédio, na Cova da Moura tinha tudo", entreajuda, solidariedde, relações de vizinhança, pequena empresária, caboverdiana, mora nas Mercês, emprega 16/17 mulheres, capitalista, "gosto de ajudar os meus", mercearia, arroz perfumado, guineense, muçulmano, mesquita, pequena comunidade, orações, jovens, "um dia irá mudar", "bófias, tou farto deles" (sic), grogue, droga, socialização, "mulher aqui não é problema, problema é união", melhores condições, Moinho da Juventude, a história do casal holandês que são figuras tutelares do bairro, biblioteca, grupo Batuque, grupo Kola San Jon, a cultura como identidade, o crioulo, energia, pilar o milho, fritar o milho, rua, velório, choro, enterro, festa Kola San Jon, Kola de coladeira, happening, orgia de cor, som, corpos, de repente o fado batido em Lisboa por volta de 1830/40 (e proibido por indecente!), 18 hectares, 1617 habitações, 6 mil habitantes, sobretudo caboverdianos, mais de 45% com menos de 20 anos... "Às vezes mandam-me para a minha terra... Ora eu nasci em Portugal... Como diz meu pai, Português preto, isso não existe" (jovem mulher, líder local, a força telúrica africana, 5 estrelas)...
Um documentário "soft", "cool", "politicamente correcto", "romântico ma non troppo" , "etnográfico", "voyeurista" ?... Há um brilhozinho nos olhos do Rui Simões, um "homem de causas", quando fala da sua "ilha"... Há um brilhozinho nos olhos dos moradores locais agora promovidos a estrelas de cinema... Eu achei lindo... E agora, juventude ? O que vamos fazer com esta "forcinha" ? Já em 2005, as fotos da fotojornalista Susan Meiselas deram uma forcinha...
"De repente, Portugal dera de novo a volta ao mundo. O arrastão de Carcavelos em 2005 , fora notícia, à falta de Tsunami, vulcão, terramoto, atentado terrorista ou castigo divino. Há males que vêm por bem, dirão uns. As fotos da Susan Meiselas, da Agência Magnum, penduradas nas janelas, nas varandas e nos estendais da roupa do gueto da Cova da Moura, acabaram por dar-lhe uma outra dimensão mediática e contribuir para a melhoria da sua imagem e da auto-estima dos seus habitantes, náufragos do império, filhos de um deus menor" (*).
Outro tanto fez (ou está a fazer, em 2010) o filme do Rui Simões. Acredito na força da imagem e da palavra: podem ajudar a mudar o mundo, pelo menos a nossa casa e o que a rodeia...



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